domingo, 18 de março de 2012

Sobre a Caverna

Olá,
Não sou um especialista em blogs mas acho que a explicação das coisas todas começa pelo nome.
A inspiração pra esse nome veio do nome do blog da minha amiga Carol Estrela, "poesia da rua" (http://poesiadarua.wordpress.com/). Logo que li o nome do blog dela me veio o nome deste blog.
Primeiro porque tenho me sentido como no bom e velho mito da caverna platônico o que já não é a primeira vez, mas recentemente a intensidade desse sentimento foi multiplicada exponencialmente. Sinto mesmo como se eu tivesse visto outro mundo que está do lado de fora dessa realidade limitada e limitante na qual vivemos. A metáfora para essa sensação também poderia ser outra, baseada em alices e coelhos ou matrixes e morfeus, mas prefiro a boa e velha imagem da caverna por vários motivos, a começar é claro pela antiguidade e pela autoria, mas não só.
Além disso pelo fato de eu ter feito isso com frequência ao longo da vida (acho que todos nós): me fechar na minha própria caverna, meu espaço escuro e individualíssimo onde tento ser urso e me esconder de mim mesmo. É algo que estou tentando eliminar das minhas práticas, ou melhor, não eliminar completamente, porque embora eu tenha descoberto a vastidão e a beleza do mundo lá fora, e quanta coisa há por fazer lá, esses momentos "cavernais" podem ser experiências valiosas de introspecção, auto-conhecimento, transformação e poesia.
Então, "poesia da caverna" é o registro desses momentos entre a luz e a sombra, o fora e o dentro, o barulho e o silêncio. Quanto à forma, pode não ser que se adeque sempre a padrões tradicionais, também porque na parede virgem dessa caverna, essas são minhas pinturas rupestres, uma primeira tentativa de expressar-se na qual a forma ainda é pouco elaborada, o sentido ainda está todo em estado bruto, e não se pode sequer chamar de desenho, ou escrita, que dirá poesia....
Outra coisa me veio também à mente: a semelhança entre a poesia da rua e a poesia da caverna é o fato de o suporte preferencial de ambas ser a parede, o suporte mais antigo do ser humano, que registra nossas manifestações gráficas desde que habitávamos a caverna, e invariavelmente público. Alguém poderia perguntar: "mas se vc quer escrever na parede, pq nao vai ser pixador ou posta no seu Wall do FB?"
Confesso que já fiz as duas experiências: já fui pixador na adolescência, e já postei as coisas no wall do fb...
pixar a parede dos outros tem uma agressividade que eu prefiro evitar (dar vazão somente verbal a ela) e o wall do fb, ou "faceboteco" é, muitas vezes como escrever na parede de um boteco cheio (ou em seu banheiro): algumas pessoas leem, se divertem ou pensam, mas a ideia geral é ficar bem louco e se misturar e se dissolver no barulho e na sensualidade do nosso primitivismo. É também um ambiente cavernal, mas não é uma caverna de reflexão, sensibilidade e silêncio, onde se tente ouvir o cantar dos pássaros lá fora. Se mesmo numa caverna silenciosa é uma tarefa difícil imagine no ruído incessante de uma caverna lotada...
Portanto, inauguro a parede dessa caverna mais reservada, onde podemos conversar falando baixinho, e onde convido o leitor a descobrirmos juntos o caminho para o mundo lá fora, tão belo e tão vasto, e quase inabitado... Vamos habitá-lo juntos?